MEU SOTAQUE, MINHA IDENTIDADE!
Já dizia o
ditado: “Diga-me com quem andas que te digo quem tu és”. A mesma lógica
de pensamento vale para as línguas e sotaques: “Mostra-me seu sotaque que te digo
de onde tu és”. A informação quanto a localização através dos sotaques
é usada negativamente por aqueles que tem preconceito linguístico. O sotaque é
tão revelador que pode-se identificar os espaços geográficos, sociais,
psicológicos. Sotaques deveriam ser usados à favor da boa convivência e da
riqueza cultural... mas não é bem assim.
Sotaques são
formas diferentes de se falar o mesmo idioma. Eles nascem pelo viés peculiar de
cada comunidade. O tempo, o espaço e os interesses são elementos
diversificadores dos sotaques. Os movimentos dos povos enriquecem o fenômeno. Os
idiomas diferentes quando se encontram proporcionam forte enriquecimento ou
empobrecimento de alguns aspectos linguísticos da língua que chega e da língua
que recebe.
Pelo sotaque
sabemos se tal pessoa nativa do inglês, por exemplo, é da Ásia, África, Europa,
Oceania ou América. E podemos saber mais detalhes como; se essa pessoa é do
norte, sul, leste ou oeste. Pela forma da musicalidade ou entonação, pode-se
saber também se pertence a alguma posição elevada da sociedade ou não.
O que compõe o
sotaque de uma região, de uma comunidade? Observando os sotaques através das
teorias saussuriano de língua e fala; podemos dizer que os traços segmentais
estão relacionado ao coletivo e o suprassegmentais, ao individual. Os traços
que dizem respeito a língua como os sons das vogais, os sons das consoantes e
outros detalhes são próprios da língua em si. Os traços que dizem respeito a
fala como entonação, tom, ritmo e coisas afins são próprios da pessoa que está
inserida em determinada comunidade. O sotaque é algo particular e coletivo ao
mesmo tempo por causa desses dois traços. E isso é o que amarra pessoas à
determinada cultura.
Podemos dizer
que o sotaque é manifestação de identificação linguística, regional, social e
também ideológica. Olhando pelo ponto de vista filosófico, ninguém fala sem
sotaque, assim como ninguém fala fora de uma gramática. Por outro lado, quem
fala com sotaque é aquele que não segue os ditames linguística da sociedade ou
comunidade dominante. Por exemplo; falar sem sotaque para os ingleses, é usar o
sotaque das classes (alta) de Londres. Para os americanos é falar com o sotaque
da classe (alta) de Nova Iorque.
Falar um inglês
perfeito é muito relativo. Depende da definição de perfeição de que se observa.
Usar perfeitamente a gramática prescritiva do inglês, mas usando vocabulários e
musicalidade fonética da África, para muitos não será inglês perfeito. Isso revela
um preconceito não só linguístico, mas, acima de tudo, social. Ninguém quer ser
identificado como africano.
Como vivemos num
mundo cheio de intolerância, corrupção, racismo e xenofobia; posso dizer sem
medo de errar que, perfeição não existe nem em língua, nem em nenhum outro
campo do saber. Por isso precisamos desenvolver nossa capacidade de entender o
outro a partir do meu sotaque, da minha identidade sem querer que o outro seja
igual a mim. Devemos urgentemente aprender a respeitar o outro do jeito que ele
é; do jeito que ele se identifica. Se o mundo agisse assim, ou o Céu abaixaria
a nós, ou a Terra elevaria ao Céu; pelo menos um pouco mais.
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